O violeiro Roberto Corrêa apresenta o repertório do seu novo disco, Concerto para Vaca e Boi, ao lado do gambista Gustavo Freccia, no Memorial Paranista
A apresentação faz parte da programação da 40ª Oficina de Música de Curitiba
Dia 02/02 (quinta-feira) às 19h30, no Teatro Cleon Jacques, o violeiro Roberto Corrêa, uma das maiores referências da viola no Brasil, apresenta o encontro das Violas Brasileiras, instrumentos regionais brasileiros, com a Viola da Gamba, que teve seu apogeu na Renascença e no Barroco. Vindas de tempos antigos, duas culturas musicais distintas dialogam em um trabalho autoral e contemporâneo.
Dentre as violas regionais utilizadas por Corrêa neste trabalho, está a Viola Caiçara, também conhecido como Viola de Fandango, ligada às tradições musicais do litoral paranaense.
Roberto Corrêa utiliza a bagagem de seus quarenta e cinco anos de carreira para conduzir as violas populares do Brasil para a música de concerto, em um repertório autoral lançando no seu mais recente disco, Concerto para Vaca e Boi, o 20º álbum do artista. O novo trabalho traz 12 composições do instrumentista, feitas especialmente para cada uma das seis violas brasileiras – Viola Repentista, Viola de Buriti, Viola Caiçara, Viola Machete Baiana, Viola de Cocho e Viola Caipira– em duo com a Viola da Gamba. Pela primeira vez, Roberto compôs para a Viola da Gamba, instrumento muito utilizado no segmento da música antiga, que sempre o atraiu.
“De certa forma a sonoridade da viola da gamba baixo lembra o mugido do boi e da vaca e me traz lembranças de um passado saudoso”, afirma Corrêa que tem a lida com o gado na história de sua família. Segundo o artista, não há registro deste encontro das violas brasileiras com a da gamba. “No Brasil também são instrumentos antigos, mas ficaram na oralidade, não têm a escrita de suas práticas passadas”.
“O período barroco, para mim, é o auge da música ocidental”, afirma ele, que tem entre seus compositores preferidos Bach e Vivaldi. Neste trabalho, o convidado especial foi o gambista Gustavo Freccia, que leciona na Escola de Música de Brasília. “Quando a gente junta os instrumentos, vira algo novo e é muito surpreendente”, conta Freccia. “Essa mistura da Viola da Gamba com instrumentos tradicionais brasileiros é muito rica e interessante. São timbres que se casam e formam uma combinação de sonoridades particular e inexplorada”, afirma. É um encontro no tempo de um instrumento da corte com instrumentos do povo.
O projeto resulta, também, na inclusão das violas tradicionais brasileiras no contexto da música de concerto, aproximando tradições musicais distintas: a música popular regional e a música de câmara. A ruptura destas fronteiras é explorada por Roberto Corrêa ao longo de seus 40 anos de carreira, especialmente em seu trabalho para a Viola Caipira e a Viola de Cocho. No Concerto para vaca e boi, ele expandiu esta abordagem para outras violas populares do Brasil.
Ao longo da apresentação os músicos falam sobre seus instrumentos, contextualizando-os.
Artesania nos instrumentos
Alguns instrumentos utilizados no projeto foram ajustados para atender as exigências das músicas compostas para o álbum, principalmente no que se refere a afinação, onde as cravelhas rústicas foram substituídas por cravelhas mais adequadas. Também foram feitas diversas experiências com cordas para se conseguir um equilíbrio na sonoridade, principalmente nos instrumentos de cordas de tripa e náilon – Viola de Cocho e Viola de Buriti. Até cordas de raquetes de badminton e Squash foram testadas e utilizadas.
Sobre Roberto Corrêa
Uma das maiores referências da viola caipira no Brasil, Roberto Corrêa se dedica ao estudo, à composição e ao ensino da viola há 40 anos. Chamado pelo crítico Tárik de Souza de “Guimarães Rosa encordoado”, o mineiro Roberto Corrêa é descendente de uma família de violeiros de Campina
Verde. É graduado em Física e Música pela Universidade de Brasília. Tem doutorado em Musicologia pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP) com a tese Viola caipira: das práticas populares a escritura da arte, defendida em 2014. É um pesquisador incessante do instrumento, tendo dedicado sua vida ao estudo e à prática da viola.
Lançou 20 discos de viola, já tocou em todo o Brasil e também em diversas partes do mundo, como Áustria, China e Portugal. É músico, intérprete e tem seu trabalho ligado às tradições interioranas, mas também associado à contemporaneidade e à erudição. Conta com três livros dedicados ao estudo da viola: Viola caipira, de 1983, um dos primeiros sobre o instrumento no Brasil, A arte de pontear viola, de 2000, com um método para ensino e aprendizagem da viola, e Viola caipira: das práticas populares à escritura da arte, de 2019, resultado da sua tese de doutorado.
Sobre Gustavo Freccia
É músico gambista e cantor, com doutorado em Performances Culturais (2021) e mestrado em Música - Canto (2015), ambos pela Universidade Federal de Goiás. É professor de Viola da Gamba e Música de Câmara na Escola de Música de Brasília (CEP-EMB SEEDF).
SERVIÇO:
40ª OFICINA DE MÚSICA DE CURITIBA QUINTA, 02/02
19H30 – Teatro Cleon Jacques / Memorial Paranista Concerto para Vaca e Boi
Roberto Corrêa: Viola Brasileiras Gustavo Freccia: Viola da Gamba Gratuito
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