OVO: tragédia cotidiana, by Vanessa Malucelli

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Nesta quinta-feira (20), grupo londrinense se apresenta no Guairinha. Com texto poético e encenação em arena, peça aborda a morte e as relações familiares nos influxos do tempo. A entrada é gratuita.

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agon teatro logoDois irmãos que passaram a juventude no campo se reencontram na cidade em um momento decisivo: a morte da mãe. Reflexões sobre a vida e suas efemeridades permeiam “OVO”, do Agon Teatro (Londrina-PR).  O trabalho tem dramaturgia e direção de Renato Forin Jr., que também está em cena ao lado da atriz Danieli Pereira. O grupo recebeu orientação cênica do diretor Marcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro. Serão duas apresentações com entrada gratuita no Guairinha, na quarta (19) e nesta quinta-feira (20 de julho), às 20 horas. Os ingressos serão distribuídos com uma hora de antecedência e a capacidade é de 100 espectadores por sessão, já que o público será acomodado sobre o palco.

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Dentro de três caixas, os atores guardam as dores e os afetos silenciados de uma família. Progressivamente, os intérpretes dão vida a Édipo e Electra, personagens trágicos que, na trama, são irmãos em conflito. A história evoca a zona rural de um Brasil arcaico, onde os dois foram criados. A peça capta o instante em que Electra chega à cidade para dar a notícia do falecimento da genitora. “A montagem mostra os desdobramentos imaginários deste encontro tão marcante para ambos. Lembranças e pressentimentos se confundem, trazendo reflexões sobre a sombra da morte que nos ronda, o desaparecimento das pessoas amadas no percurso da vida, a angústia da passagem do tempo, as incertezas a respeito de Deus e do destino”, explica Forin.

OVO - Agon  Teatro (foto de Victor Pedrassoni) 5.jpg

Ao abordar questões como estas, o Agon Teatro traz à tona elementos da tragédia clássica dentro de uma estrutura formal contemporânea. A dramaturgia é o ponto alto da montagem, intercalando fragmentos dramáticos, monólogos interiores, narrações e quebras da ilusão teatral. Em muitos momentos, os atores despem-se dos personagens, lançando ao público estilhaços de pensamento sobre o ofício da cena e as relações entre arte e vida. “A minha angústia é que a vida não se repete. Ela está sempre indo, indo, indo. Cada segundo é um nunca mais, você entende? Aqui no teatro é diferente”, diz, em certo momento, Danieli Pereira, que vive Electra.

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Outra curiosidade da montagem é o espaço cênico. O público é disposto bem próximo dos atores, em torno de uma arena circular, onde acontecem transformações cenográficas e revelações de pequenas surpresas. “Cenário, figurino, iluminação, sonoplastia e a própria encenação conduzem os espectadores por uma viagem entre o cinza barulhento da cidade e as cores plácidas do campo. É como se a dramaturgia se concretizasse também espacialmente”, pontua o diretor. Para este deslocamento de paisagens, o Agon Teatro utiliza quilos de palha de arroz, terra, água, sementes verdes e mecanismos sonoros dispostos no espaço. A trilha é assinada por José Carlos Pires Júnior, a luz é de Maria Emília Cunha, os figurinos são de Nathalia Oncken e o cenário é uma criação do Agon.

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O diretor explica que, na peça, Édipo e Electra são revestidos por referências psicanalíticas e por uma humanidade cotidiana – o que gera o efeito de proximidade com o público. “O espetáculo, no fundo, é bastante simples, no sentido de buscar a essência do gesto teatral: o efêmero, o que não se repete, o encontro real entre as pessoas – experiências cada vez mais raras no nosso tempo”.

A montagem, que estreou em 2015, contou com patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura. Desde então, realizou cerca de 30 apresentações com sucesso crescente de público e de crítica. Além das temporadas na cidade-sede, também integrou a programação oficial do FILO (Festival Internacional de Londrina), do Londrix (Festival Literário de Londrina) e do SESC local. A peça circulou ainda por cidades do interior como Maringá e Arapongas. As apresentações em Curitiba são independentes e contam com o apoio do Governo do Paraná – Centro Cultural Teatro Guaíra, Hotel Dann In e Churrascaria Ponto Gira Grill.

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Criado em Londrina há cinco anos como um grupo de pesquisa, o Agon Teatro investiga a encenação e a dramaturgia contemporânea a partir do estudo contínuo das linhas de força da tradição (ensinamentos dos grandes mestres) e suas possibilidades de atualizá-las. É a partir dessa proposta que seus fundadores, Renato Forin Jr. (doutor em letras com ênfase em dramaturgia, ator e jornalista) e Danieli Pereira (bacharel em artes cênicas, atriz e produtora cultural), desenvolvem suas montagens, trabalhando também com artistas convidados.

Construído ao longo de dois anos, “OVO” teve, em sua última etapa, um auxílio ilustre – a orientação cênica de Marcio Abreu, diretor da Cia Brasileira de Teatro (Curitiba/Rio de Janeiro). “Marcio nos despertou para questões importantes e essenciais em ‘OVO’, como a criação de um convívio e de uma presença em constante fluxo relacional com a plateia, a escuta do próprio texto e o exercício de esquecimento, para que a cada apresentação a peça adquirisse um frescor”, destaca Forin.

Para Marcio Abreu, a montagem do Agon Teatro encontra um lugar de confluência entre texto e encenação muito interessante. “’Ovo’ é muito bem pensado conceitualmente, não é diletante. Apresenta um texto de qualidade poética inegável e isso é maravilhoso. O foco de atenção nesta montagem é a dramaturgia e o grupo encontrou um modo de explorar o texto de maneira bastante singular. A peça traz uma intersecção forte entre literatura e teatro, é rica em interfaces, na consolidação de linguagens. Trata-se de uma tentativa muito séria de expandir a dramaturgia”, pontua.

Serviço:

  • OVO – Grupo Agon Teatro
    • Data: 20 de julho (quinta-feira), às 20 horas
    • Local: Teatro Guairinha
      • Auditório Salvador de Ferrante
      • Rua XV de Novembro, 971 – Curitiba / PR
    • Entrada Gratuita (Ingressos distribuídos a partir das 19 horas)
    • Capacidade: 100 espectadores por sessão
    • Tempo de duração: 90 minutos
    • Classificação indicativa: 14 anos
  • Ficha técnica
    • Dramaturgia e direção: Renato Forin Jr.
    • Orientação cênica: Marcio Abreu
    • Elenco: Danieli Pereira e Renato Forin Jr.
    • Criação de cenário: Agon Teatro
    • Criação de figurino: Nathalia Oncken
    • Criação de luz: Maria Emília Cunha
    • Desenho sonoro, flautas e viola: José Carlos Pires Júnior
    • Viola da Gamba: José Olmiro Borges
    • Violino: Letizia Roa
    • Produção: Danieli Pereira
    • Operação de luz: Amarilis Irani
    • Operação de som: Rogério Costa
    • Assistência de palco: Marika Sawaguti
    • Fotos: Marika Sawaguti e Victor Pedrassoni
    • Execução de cenário: Claudiomar Meneguetti, Roberto Rosa, Romildo Ramos
  • Apoio em Curitiba: Governo do Paraná – Centro Cultural Teatro Guaíra; Hotel Dann In e Churrascaria Ponto Gira Grill
  • Patrocínio da montagem (2015): Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina
  • Contatos para a imprensa:
    • Renato Forin Jr. (Dramaturgo, diretor, ator): (43) 9 9979-3349
    • Danieli Pereira (Produtora e atriz): (43) 9 9938-4779

*Créditos/Fotos: Marika Sawaguti e Victor Pedrassoni (no nome do arquivo JPG)

*com divulgação

 

 

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Colunista do Site — Divirta-se Curitiba!

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