Pandemia: pesquisadores da UFPR explicam incidência nos pets, importância do isolamento

*Comunidade científica não tem consenso sobre efeitos do Coronavírus nos pets

*Pesquisador defende isolamento social para reduzir impactos na saúde pública

*Pesquisador alerta para necessidade de mudança radical nos estilos de vida por conta da pandemia

As fontes são o professor o Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular Emanuel Maltempi de Souza e o professor sênior do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Dimas Floriani. Solicitações de entrevista dependem da disponibilidade de ambos, mas o material abaixo pode ser livremente utilizado.

Valorize a ciência! Valorize o saber técnico e o conhecimento científico!
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Animais de estimação não adquirem Covid-19; tutores doentes não devem ter contato com humanos ou animais

Resumo: Presidente da comissão, o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular Emanuel Maltempi de Souza, orienta a manutenção dos hábitos de higiene em humanos e animais. “É bom sempre manter os animais bem asseados e lavar as mãos depois de manuseá-los, alimentá-los ou limpar as áreas que ocupam. Se tiver dúvida sobre quais produtos usar nos pets, é indicado consultar um veterinário”.
Caso o animal de estimação teste positivo para o novo coronavírus, é necessário que fique em quarentena e seja isolado do contato com outras pessoas. “Mas isso é extremamente raro e, até agora, nenhum teste tem sido feito em animais de estimação no Brasil”, afirma Souza.
As orientações do Conselho Federal de Medicina Veterinária e do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo são para que pessoas infectadas evitem contato com seus cães e gatos, fazendo quarentena de convivência com eles durante o período de isolamento domiciliar. A medida tem o objetivo de evitar que o tutor infectado, ao espirrar ou tossir, espalhe partículas virais na pelagem no animal.
Os veterinários recomendam, ainda, que as saídas com os animais sejam curtas, buscando lugares não aglomerados e horários de menor movimento. Ao retornar para a residência, é necessário higienizar as patas dos pets com água e sabão neutro, para evitar que o contato com superfícies contaminadas na rua leve partículas virais para o ambiente domiciliar.
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Pesquisador defende isolamento social para reduzir impactos na saúde pública

Resumo: O quadro demonstra que, até este ponto, a evolução do Coronavírus no Brasil foi parecida com a da Itália, dos Estados Unidos e da Espanha, afirma o cientista Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus na universidade. Nesses países, quando cerca de duas mil pessoas apresentavam a condição, já haviam morrido aproximadamente 50.
“Todos esses países estabeleceram medidas semelhantes às do Brasil para diminuir a transmissão entre as pessoas: medidas de distanciamento social rígidas – como suspensão de aulas em escolas e universidades, fechamento de comércio e ordem para ficar em casa – e de higiene pessoal, principalmente lavar as mãos e não tocar o rosto”, comenta Souza. Após a implantação dessas providências, espera-se que o número de novos doentes apresente redução. Contudo, o professor lembra que o resultado deve aparecer claramente entre duas a três semanas depois da adesão da população às medidas, já que o período de incubação do vírus pode ser de até 14 dias, embora na maioria das vezes seja de três a cinco dias.
Atitudes de distanciamento social foram empregadas no Brasil e no Paraná ainda no início da expansão da Covid-19, em comparação com outros países. A região italiana da Lombardia, por exemplo, foi isolada quando já havia 237 casos e três mortes (em 23 de fevereiro), mas as universidades e escolas do país só suspenderam as atividades quando já existiam cerca de 3800 doentes (em 8 de março). “Esse atraso para romper o ciclo de contaminação provavelmente levou à transmissão disseminada da enfermidade. Apenas nos últimos dois ou três dias (23 a 25 de março) é que foi possível notar a estabilização do número de novos casos, cerca de duas semanas após a implantação de medidas rigorosas. Ou seja, mesmo em casos extremos como o da Itália, o distanciamento social realmente funciona”, reitera o cientista.
“Mesmo em casos extremos como o da Itália, o distanciamento social realmente funciona”.
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Pesquisador da UFPR alerta para momento de mudança social, mas também de perigos que podem custar a vida

Resumo: Professor sênior e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMAD), o sociólogo Dimas Floriani pode ser considerado, a partir dos seus estudos, um analista de vanguarda do que vivemos hoje. Amparado em referenciais teóricos que pensam as relações do homem com a natureza, ele sinaliza, retomando os gregos, que a crise é momento de criação, mas também de perigos que nos podem custar a vida. “E sem ela não há nada a fazer”, aponta.
A questão traz um conjunto de complexidades que não escapam aos argumentos do pesquisador. De acordo com ele, a forma como os modelos de organização social deixaram marcas na natureza, alterando condições de vida, pintou um quadro difícil de ser revertido, como o surgimento de um estilo de vida consumista e a crise climática registrada desde o século passado.
“Os estilos de vida, a concentração urbana, questões relacionadas ao saneamento e à higiene, os hábitos alimentares. Todos esses fatores se conjugam naquilo que se chama de sociedade de risco”, explica. De acordo com ele, a medicina estuda os fatores biológicos e genéticos, mas há causas da doença que estão internalizadas nestes estilos de vida.
Para Floriani, esse é um momento em que o lado racional da humanidade pensa em questões práticas, mas sua necessidade de preservação da espécie mobiliza medidas de cooperação e solidariedade.“No imediato não há luz possível que acenda qualquer esperança: é o completo aleatório, uma ameaça permanente sobre nós. Contudo, os seres humanos carregam a esperança que lhes restitui a capacidade de reagir frente ao caos”.
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Cientistas da UFPR esclarecem dúvidas da sociedade sobre coronavírus

Você já se perguntou se a utilização do vinagre é recomendada para eliminar o coronavírus? Ou quanto tempo o vírus permanece nas superfícies ou nas mãos? Essas e outras perguntas da sociedade foram respondidas pelo cientista Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele preside a comissão de especialistas criada na UFPR para o enfrentamento e prevenção da doença Covid-19, causada pelo coronavírus.
As dúvidas enviadas pela população fazem parte da campanha “Pergunte aos cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR. No momento atual de pandemia do coronavírus, o público interno e externo à Universidade pode continuar enviando dúvidas sobre o assunto. Para participar, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciacomunicacaoufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside.
Perguntas sobre prevenção
“O uso do álcool sem ser em gel tem a mesma eficácia? E a utilização do vinagre é recomendado ou é uma notícia falsa?” (Flavia Cristina Furtuoso Barbosa, 20 anos, estudante de Comunicação, de Pinhais – PR). “Se não encontro álcool em gel, posso substituir por álcool de mercado?” (Priscila Gaia, 41 anos, advogada, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Álcool na concentração de 70% é um agente desinfetante eficiente, matando bactérias e vírus patogênicos, inclusive o coronavírus SARS-CoV-2. Para as mãos e pele é recomendado álcool gel, que possui ingredientes para impedir a desidratação da pele. Se não encontrar álcool gel, procure lavar as mãos frequentemente com água e sabonete e atente para a técnica correta. Se você usar muito frequentemente solução de álcool a 70%, a pele ficará ressecada. Finalmente, vinagre é ineficiente e não vai matar o coronavírus seja em superfícies, pele ou na garganta fazendo gargarejo. Essa é 100% fake.
“Para alguém com sintomas de gripe, qual o tempo de isolamento recomendado?” (Ana Rank, administradora, 29 anos, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – O problema do sintoma de gripe é que pode ser Covid-19. Se for a doença leve, deve ser curada em 14 dias e após esse período o vírus não deve estar mais presente. Portanto, o recomendado seriam 14 dias de isolamento voluntário.
“É verdade que se os sintomas forem leves é melhor nem ir ao hospital e ficar em repouso, cuidando como uma gripe normal?” (Patrícia Dall Agnol, 29 anos, engenheira ambiental, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Sim, é verdade. O sistema de saúde estará sobrecarregado, não só por causa da Covid-19, mas por um grande número de doenças que circulam. Além disso, você provavelmente vai se expor à contaminação no caso de não ter Covid-19. O melhor é se tratar em casa num regime de isolamento voluntário durante pelo menos 14 dias. Evite sair e principalmente evite contato com outras pessoas para não passar seu vírus para frente (se for o SARS-CoV2 ou não). Vale lembrar que a grande maioria dos casos de Covid-19 são leves (cerca de 80%). Cerca de 15% requerem cuidados médicos e 5% desenvolvem quadro grave. O sistema de saúde tem que se preocupar com esses casos que se não forem tratados imediatamente, pode ir a óbito.
“Minha filha e eu viajamos a São Paulo. Minha avó faleceu. Por isso, não foi possível evitar/adiar. É necessário isolamento domiciliar, sem contato externo algum? Caso sim, por quantos dias?” (Sarah Rezende, 31 anos, designer gráfico, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – No momento não existe uma recomendação para isolamento. Porém, como vocês vêm de uma região onde tem transmissão comunitária e devem ter frequentado locais com número razoável de pessoas, isolamento voluntário é indicado. O período de incubação em geral é de até cinco dias. Portanto, no seu caso sete dias de isolamento seria suficiente.
“Vou viajar para minha casa de ônibus. Quais cuidados devo ter em relação ao coronavírus?” (Ariane Welke, 23 anos, estudante, de Jandaia do Sul (PR), com viagem para Ponta Grossa – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Ariane, você deve manter distância das pessoas. O ideal seria um assento de intervalo, pois você ficará tempo razoável no ônibus (cerca de uma hora). O que é preconizado é um afastamento de 1,5 metro, que é a distância que gotículas de secreção oral e nasal alcançam quando se tosse ou espirra. Se a distância for menor que 1,5 metro, é recomendado que não dure mais que 15 minutos. Se o passageiro que estiver ao seu lado apresentar sintoma de gripe ou resfriado, talvez você pudesse pedir para mudar de lugar. O assento também pode estar contaminado. Por isso, não passe as mãos no rosto. Use álcool gel para desinfetar as mãos e lave-as bem quando tiver oportunidade. Nos pontos de parada é comum aglomeração de pessoas: procure se distanciar dessas situações. Não é questão de ser antissocial, é necessário para você se proteger e proteger a comunidade evitando que o vírus se espalhe.
“Tenho um pai diabético e cardíaco em casa. Eu tenho que sair de casa já que tenho que trabalhar e não posso ficar em quarentena? Como devo agir e o que fazer para garantir a saúde e segurança dele?” (Patrícia Dall Agnol, 29 anos, engenheira ambiental, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Patrícia, você precisa proteger seu pai, pois ele faz parte do grupo de risco. Evite que seu pai saia de casa, principalmente se for para lugares onde ele pode entrar em contato com muitas pessoas. Você também deve se policiar para não contaminá-lo. Para isso, será necessário se distanciar fisicamente de seu pai: o contato deve ser de aproximadamente 1,5 metro. Quando chegar em casa, lave bem as mãos e outras áreas expostas, e troque de roupa. Procure limpar mesas e bancadas com detergente/sabão e água e desinfetar com álcool 70% (ou produtos de limpeza geral) regularmente. No trabalho siga as regras de distanciamento social: cumprimentar as pessoas a distância, mantenha distância de 1,5 metro das pessoas, lave mãos sempre que possível ou use álcool gel e procure não passar mãos no rosto. Se você tiver sintoma gripal, sugiro restringir mais ainda contato para o que chamamos de isolamento. Algumas empresas estão liberando os colaboradores que coabitam com pessoas do grupo de risco. Verifique se não é o seu caso.
Sobre a contaminação
“Quanto tempo o vírus permanece vivo na mão e permanece nas superfícies?” (Simone Moraes Christini, 46 anos, decoradora autônoma, de Curitiba – PR, e Mariana Thais Megel, 20 anos, estudante, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Depende o tipo de superfície. O coronavírus pode sobreviver de horas até vários dias em certas superfícies e outros fatores como umidade e temperatura. Por isso, é recomendado limpar superfícies com água e sabão e, em seguida, desinfetar com álcool 70% ou usar produto de limpeza de uso geral. Já na sua mão ele vai sobreviver o mínimo de tempo possível, pois você vai lavar as mãos frequentemente e usar álcool em gel.
“É verdade que o coronavírus fica na garganta por mais ou menos quatro dias? E se fizer gargarejo de água quente com sal e vinagre é possível matar o vírus?” (Vinícius Rocha Sampaio, 18 anos, estudante de Fisioterapia, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Isso é totalmente fake. O vírus não será inativado com água quente, sal e vinagre. A forma de evitar o coronavírus e não ser contaminado é manter distanciamento social, lavar as mãos com água e sabão, usar álcool gel (quando não puder usar álcool gel, lavar as mãos), não levar mãos ao rosto e ficar longe de fake news.
“Coronavírus pode ser transmitido pelo ar?” (Venilson Farias)
Emanuel, cientista UFPR – Sim. Gotículas de secreção nasal e saliva expelidas na tosse e espirro contêm o vírus. Essas gotículas caem sobre superfícies que ficam contaminadas. Quando as pessoas passam as mãos nessas superfícies contaminadas e levam ao rosto, permitem a entrada do vírus pela boca, nariz ou olhos. Acredita-se que essa seja a principal forma de infecção. Por isso, a insistência: fique a no mínimo 1,5 metro das pessoas (para evitar contaminação direta no caso da pessoa tossir ou espirrar ou lançar gotículas ao falar), lavar as mãos frequentemente e não levar mãos ao rosto.
“Qual é a célula específica que o coronavírus ataca? E quais os prejuízos fisiológicos?” (Marwim Renan, 25 anos, estudante de Medicina, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – O vírus infecta células epiteliais pulmonares (e de outros órgãos) que expressam o seu receptor, que é a proteína chamada enzima conversora da angiotensina 2 (abreviada ECA2 ou ACE2, em inglês). As espículas (projeções da camada lipídica na superfície do vírus composta pela proteína viral S) são as estruturas que interagem com a ECA2.
Perguntas sobre saúde
“É verdade que perde de 20 a 30% da capacidade respiratória depois de curado? E pode pegar coronavírus duas vezes?” (Letícia Bengtsson, 23 anos, estudante, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – De fato os relatos indicam que há perda da capacidade respiratória e que o pulmão pode ter lesões. Se essas lesões serão permanentes, ainda não se sabe. Embora o vírus prefira os pulmões, pode infectar membranas mucosas do nariz e sistema digestório, podendo inclusive alcançar rins, fígado e sistema vascular, onde pode provocar inflamação e falha de funcionamento do órgão.
“Quanto tempo o coronavírus fica no corpo de alguém infectado?” (Rafael Krasinki, 22 anos, técnico em mecânica, de Curitiba – PR)
Emanuel, cientista UFPR – Acredita-se que nos casos leves cerca de 14 dias. Pacientes com casos graves têm a doença pelo menos três semanas, podendo se estender até seis.