Estudo aponta a importância do controle de velocidade para salvar vidas

Velocidade é o fator que mais contribui para a gravidade das lesões causadas pelos acidentes de trânsito

Curitiba, junho de 2021 - Desde os anos 1960 são realizados estudos em diversos países sobre a importância da redução da velocidade para diminuir o número de vítimas graves e fatais no trânsito. Em maio deste ano, o programa SOS Estradas divulgou uma pesquisa chamada “Indústria da Multa ou Fábrica de Criminosos de Trânsito?”, mostrando que a gestão da velocidade é uma das principais armas no combate à violência no trânsito, pela relação direta entre velocidade e a consequência dos sinistros, principalmente, no índice de mortos e feridos graves.
“Nosso objetivo é mostrar que a fábrica de infratores vem crescendo com a impunidade e que é preciso usar a tecnologia no controle de velocidade para a preservação de vidas. Afinal, nenhum artigo do Código de Trânsito Brasileiro obriga o condutor a dirigir acima da velocidade. Essa é uma escolha individual, que acaba trazendo consequências à sociedade, e para isso a lei prevê punição”, comenta Rodolfo Alberto Rizotto, coordenador do programa. “Nosso trabalho ressalta ainda que não existe fundamento na chamada indústria da multa, argumento muito utilizado no nosso país. Pelo contrário, os dados obtidos, alguns de forma inédita, mostram que no Brasil multamos muito pouco”, explica Rizotto.
Redução de velocidade e legislação mais dura mundo afora
Em virtude da Década de Ações para a Segurança Viária 2011-2020, a ONU e a OMS iniciaram a produção de vasto material para auxiliar os países a atingirem as metas propostas, entre eles, o Manual da Gestão da Velocidade, elaborado junto com o Banco Mundial e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). O documento destaca a importância do combate ao excesso de velocidade. “A velocidade excessiva e inadequada é o fator que mais contribui para a gravidade das lesões causadas pelos acidentes de trânsito. Quanto maior a velocidade, maior a distância necessária para parar um veículo e, portanto, maior o risco de ocorrer uma colisão. À medida que mais energia cinética deve ser absorvida num impacto em alta velocidade, maior o risco de lesão caso a colisão venha a ocorrer. A gestão da velocidade constitui uma ferramenta muito importante para melhorar a segurança no trânsito”, informa o estudo.
Um exemplo eficaz de melhoria na segurança do trânsito vem da Espanha que, com várias medidas, incluindo a utilização de toda a tecnologia disponível para o controle de velocidade (radares fixos, estáticos, portáteis e móveis - estes últimos em veículos em movimento que não são identificados), conseguiu uma mudança histórica no comportamento dos condutores. No último mês de maio o país baixou ainda mais o limite de velocidade nas cidades e entrou em vigor a nova legislação que limita a até 20 km/h a velocidade máxima em vias urbanas. Infratores podem ser punidos com prisão e multas de até 600 euros, segundo a Dirección General de Tráfico. Itália, França e Reino Unido também intensificaram a gestão da velocidade na última década.
Brasileiros apoiam controle de velocidade
No Brasil, pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas com apoio da Abeetrans, apurou que 75,9% dos entrevistados aprovam os controladores eletrônicos de velocidade quando ficam cientes dos benefícios em termos de redução de acidentes e vítimas. “Quanto melhor informados da importância dessa tecnologia, bem como a gravidade da violência no trânsito brasileiro, maior a compreensão sobre a necessidade de se utilizar todos os meios possíveis para evitar comportamentos de risco e punir infratores”, reforça o coordenador do SOS Estradas. “Os dados que apresentamos no nosso estudo demonstram que o número de condutores multados pelos radares fixos no país é, em média, inferior a 1%. O índice é ainda menor quando analisamos radares portáteis. O número de autuações aplicadas pelas autoridades, em particular nas rodovias, é praticamente irrelevante considerando o volume total de veículos circulando e a quilometragem percorrida”, destaca.
Contribuir para um trânsito mais seguro é uma das missões da Perkons, que atua com gestão de trânsito e mobilidade há 30 anos, e está presente em 490 municípios e 25 estados brasileiros. “Os dados gerados por equipamentos que a Perkons tem instalados em todo o país apontam que 99,93% dos motoristas respeitam a velocidade nos pontos fiscalizados”, comenta Luiz Gustavo Campos, diretor da empresa e especialista em trânsito. “Mas, para a ínfima parcela de infratores, àqueles que não respeitam a velocidade permitida na via, a fiscalização eletrônica e os demais equipamentos são uma forma de inibir e de educar”, conclui Campos.

Maior escolaridade pode refletir positivamente no trânsito, segundo pesquisa

Pessoas com ensino superior apresentam maior percepção quanto à imprudência como causa de acidentes e sobre aspectos relacionados à aplicação de multas

Curitiba, fevereiro de 2020 - A pesquisa realizada pela Paraná Pesquisa para a Abeetrans (Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito) mostra que quanto maior o grau de instrução do entrevistado, maior tende a ser a sua percepção quanto à imprudência do motorista como principal causa de acidentes no trânsito. Os resultados revelam também que pessoas com ensino superior demonstram ser mais cientes sobre os limites de velocidade nas vias e sobre questões específicas relacionadas à aplicação de multas por radares.

Realizada em meados de 2019 no Distrito Federal e em sete capitais brasileiras - Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo -, a pesquisa englobou 3.227 motoristas e o mesmo número de pedestres, de ambos os sexos, com mais de 18 anos, que responderam a questões relacionadas ao trânsito, como as principais causas de acidentes, comportamento seguro e conhecimentos específicos quanto ao funcionamento dos equipamentos de fiscalização eletrônica e limites de velocidade, entre outros.

Causa de acidentes – Foi perguntado aos entrevistados quais as principais causas de acidentes de trânsito, podendo ser assinalado mais de um motivo. A pesquisa apontou a imprudência do motorista como principal fator, seja entre motoristas ou pedestres, em todas as cidades pesquisadas.

No entanto, foi constatado que essa percepção é maior de acordo com o grau de escolaridade. A imprudência foi apontada entre 55% dos entrevistados com ensino superior, 47,2% com ensino médio e 43,1% com ensino fundamental.

Limites de velocidade – Entre os motoristas das oito cidades pesquisadas, a maioria alegou estar ciente dos limites de velocidade nas vias públicas: 59,3% dizem conhecer e 37,5% dizem conhecer bem, contra 1,7% que alega não conhecer estes limites. 32,2% de todos os participantes com ensino superior afirmaram conhecer bem os limites de velocidades, contrastando com 23,8% com ensino médio e 16,2% com ensino fundamental.

Na pesquisa com os pedestres os números impressionam negativamente: 27,2% afirmaram desconhecer a velocidade máxima permitida nas vias de seus municípios. Quanto ao grau de escolaridade, os pedestres que desconhecem os limites de velocidade representam 17,7% dos que têm ensino superior, 25,3% com ensino médio e 35,1% com ensino fundamental.

Sobre multas – Os entrevistados com maior grau de instrução demostraram ser mais bem informados quanto às questões relacionadas a multas. Quando questionados se sabem quem determina os valores aplicados, 45% dos entrevistados com nível superior sabem ser uma determinação do Código Nacional de Trânsito. Esse conhecimento é de domínio de 40,5% dos entrevistados com ensino médio e 35,4% com ensino fundamental, na somatória das oito cidades.

Em outra pergunta procurou-se detectar se os entrevistados sabiam que o dinheiro das multas de trânsito não vai para as fabricantes de radares, e sim, que elas recebem pelo aluguel do equipamento. 35,3% dos entrevistados com ensino superior sabem disso, contra 27,7% com ensino médio e 23,2% com ensino fundamental.

“A grande questão é se de fato essas percepções se manifestam em um comportamento mais seguro. Há, em geral, certo distanciamento entre o que se declara e o que se faz na realidade das ruas. Mas é razoável afirmar que a maior escolaridade contribui para uma maior percepção sobre o trânsito”, comenta Jorge Tiago Bastos, professor de Segurança Viária do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O professor observa uma carência de educação para o trânsito. “Apesar de estar prevista no Código de Trânsito Brasileiro, a educação para o trânsito não é implementada nas escolas de ensino fundamental. Esta seria uma disciplina de grande importância, gerando impacto a médio e longo prazos, tanto para crianças quanto para adolescentes, que ao se tornarem condutores, teriam passado por esta formação, que é um processo”, ressalta.

Além disso, Bastos cita outros dois processos que se somam à educação para o trânsito: melhoria na formação de condutores e realização de campanhas de conscientização mais frequentes, com monitoramento dos seus efeitos, para que tenham resultados além do curto prazo. “Todos esses processos teriam como impacto a formação de uma cultura de segurança viária”, afirma.

Para o especialista em trânsito e diretor da Perkons, Luiz Gustavo Campos, educar, conscientizar para os riscos e para a mobilidade segura é fundamental. “A educação está diretamente atrelada à segurança no trânsito e, independente do grau de instrução, o condutor precisa estar consciente de que respeitando as regras de trânsito, conhecendo seus direitos e deveres e pensando coletivamente estará contribuindo para uma sociedade mais gentil e cidadã”, conclui.